DIA 655 – ANO III

No projeto de descompressão lenta e gradual rumo ao final deste projeto a que chamei *Diário do Confinamento*, restam-me cerca de quatro dias, suposto que está marcado para sete de janeiro de dois mil e vinte e dois o meu retorno ao trabalho presencial. Não há melancolia e nem sentido trágico nisso; muito menos sentimento de perda, porque em verdade eu vou ganhar minha casa de volta (as pessoas que aqui estiveram comigo sempre as tive). Quero ainda traçar e fixar em palavras o verniz exato do sentimento que cerca esse retorno – não, não há nenhuma ideia de vazio a externar. Pelo contrário. O projeto cumpriu de forma plena o seu objetivo – e era este: aproximar pessoas. Nunca estivemos tão próximos uns dos outros aqui dentro de casa; em nenhum outro cenário teríamos conversado tanto com nosso filho; sem falar no cuidado urgente e necessário em relação aos nossos pais (aí, vivinhos da silva); o arremate de tudo isso foi, ainda, a ampliação do contato com os amigos, mesmo à distância. E se teve alguns aí que receberam mais de 600 entradas do Diário e nunca comentaram nada, nenhuma linha, aviso: não guardo rancor. Quando se faz um ato de entrega, não se busca medalhinha. Quem tinha que ser capturado pela empatia, foi. Quanto aos próximos passos do PROJETO DIÁRIOS (um dos seis deste ano de 2022), eles serão revelados ao longo desta semana. O *Diário Incidental*, título provisório, vai caminhar no sentido contrário ao que me propus aqui: será o diário do registro das cenas que comporão o retorno, o apanhado da vida, a socialização externa, o cotidiano, as cenas. Ninguém vive olhando para o plástico. Como no filme japonês “Boneca inflável”, uma fábula sobre o amor e a solidão, nem sempre somos ocos por dentro. Quem tem amigos, tem tudo.

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