DIA 04

Na saída do local em que fiz um exame pela manhã, caminhei em direção ao automóvel observando o traçado daquela rua movimentada, o espelhamento moderno dos prédios, a grande placa de um instituto cultural famoso e neste giro parei os olhos num pequeno estabelecimento à beira da calçada. Parei diante do balcão e falei para a senhora que vendia pão de queijo: “Gostei do nome: Lu Lanches”. Ela me corrigiu: “Ju Lanches. Ju de Jurema”. Dona Jurema não estava para conversa. Resolvi pedir um daqueles pãezinhos, mas em seguida me arrependi. O que faria com ele? Eu queria conversar com Dona Jurema; seus olhos tinham a tristeza de quem não está para brincadeira. Como Kehinde, a protagonista de “Um defeito de cor”, ela tem que batalhar nesse mundo branco. Queria lhe perguntar sobre o que se passava naquela rua, tanta gente na fila, logo atrás. Lembrei que era exatamente para isso que eu estivera ali. O exame do medo. Eu queria estar longe. Apanhei o saquinho que ela me alcançou. O trocou enfiei num dos bolsos reprimidos da calça jeans. Adiante, numa sinaleira, doei aquele lanche.

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