DIA 03

Aí pelo meio da tarde, com o pote de comida das tartarugas na mão, caminhei em direção ao aquário construído no chão do pátio; antes me detive a olhar para a pequena mureta de concreto, aquele limite entre o piso de ardósia e o canteiro de terra, uma estrutura de pouco mais de dez centímetro de altura que atravessa a largura do terreno e que serve… não sei para que serve. Anos atrás, era nova e imponente (parecia mais alta); o tempo corroeu o reboco, descoloriu a pintura e tantas rachaduras manifestam-se que hoje me parecem veias cortando um longo braço. A muretinha não foi ideia de ninguém aqui na casa; sustentei o pedido, o construtor executou. Penso neste outro confinamento que iniciei com estes Diários Ocasionais e o sentido de narrar a experiência desta tarde. A mureta é uma lembrança da infância, um alinhamento sobressalente que eu costumava ver no interior das casas da minha vizinhança, paredes de madeira, onde as famílias depositavam objetos. Nossas paredes não tinham aquilo porque eram duplamente forradas; eu nunca gostei daquelas paredes lisas (a antiga casa foi abaixo). Nossa mureta está começando a lembrar-me esse passado de carência arquitetônica. Melhor não ter a ideia de colocar nada ali.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima
Precisa de ajuda?