DIA 653 – ANO II

O primeiro dia do ano novo em Canoas. Na casa de minha mãe, lembranças encadeadas, enquanto conversava com meu pai na área de fora. Em cada lugar do pátio, uma história, em cada história uma memória afetiva, viva, intensa. Infância. Alforria das brincadeiras sem hora para terminar. Desestabilização das peças da casa. Estrepolias. A maioria dessas memórias, confesso, foram vividas ao lado de meu irmão. “Marcos, aos oito” é o projeto de escrita pessoal que desenvolverei em 2022. Recordar, em palavras, essas histórias todas. Ao todo serão dezoito narrativas. Uma delas, hoje: Eu estava completamente absorvido observando o gramado do extenso pátio e tive uma visão. No meio do velho terreno, antigamente erguia-se a velha casa; ali, encontrei uma enorme pedra redonda. Perguntei-me de onde surgira aquela coisa tão grande, tão esférica, se o Bairro Mathias Velho é uma área antiga, barrenta, zona rural de produção de arroz, então como poderia haver ali uma rocha tão regular e oval no meio do pátio, no meio das minhas ideias, no meio de uma tarde de 37 graus vividos em suor na Baixada Canoense. Sim, meu pai não gosta de ar-condicionado e fiquei com ele na rua. Perguntei-me sobre a história daquele rude objeto ao mesmo tempo em que fui caminhando em direção àquela projeção geológica. Então concluí: as memórias são mesmo duras, porque dura é a existência de dois irmãos tentando sobreviver entre brincadeiras, machados, motocicletas, brigas e corridas na Avenida São Paulo, mergulho em valões – tudo isso contarei.

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