Nenhum registro pode deixar marcas tão profundas que não possam ser lavadas em água corrente. Como diz um provérbio africano: “A sola do pé conhece toda a sujeira da estrada”. Um diário é um registro que procura a aparência de uma verdade inventada. A estrada eu mesmo faço. Por aqui, a ideia sempre foi descortinar os eventos do dia, mostrando-os como acontecimentos simples, passagem do tempo, descompromisso, a vida em sua essência mais elementar, a rotina, seu encanto. Domingos em família. Trinta e nove graus na rua e o canto do olho voltado para o documentário sobre Paulinho da Viola que o pessoal de casa assistia; debruçado sobre a mesa, leio “Um defeito de cor”. Tanto na tela como nestas páginas, rios de criatividade, pegadas que não se apagam, a cultura brasileira, nosso povo, nossa voz. Voz, caneta, partitura, violão.