No almoço, conversamos sobre lembrar dos sonhos. Contei sobre a manhã de ontem, quando acordei lembrando que estava no meu terceiro sonho recorrente ao longo da vida. Elisa contou sobre o dela. Escutei-a antes de iniciar o relato dos meus. Meu primeiro sonho: estou no último ano da Faculdade de Direito na PUC, e acabo de descobrir que não consegui aprovação em uma disciplina, fato que atrasará minha formatura. Tive esse sonho durante muitos anos, e recordo que tal frequência começou logo após minha formatura. Então era mesmo um delírio – e, no entanto, eu acordava daquilo e começava a procurar meu diploma ou qualquer indicativo parecido da conclusão do curso. O outro sonho que ficou anos me perseguindo era assim: entro me arrastando num buraco cavado no concreto, e logo que entro caio num vão onde só posso permanecer deitado e lá deitado fico. O problema neste é que a entrada se fechava, escurecia e não havia jeito de sair daquele espaço apertado. Nesse ponto, eu sempre acordava. Do último sonho recorrente acordei intranquilo na manhã de ontem. Nele, tenho que percorrer um longo trajeto. Descubro que não é possível contar com a ajuda de nenhum tipo de veículo, só caminhando; nessa jornada, preciso cruzar uma estrada deserta, areia suja, destas escuras que existem em praias onde os veículos circulam e estacionam; mas não há carros, não há ninguém, só calor, muito calor. Acordo todo suado. “A noite dissolve os homens” (Carlos Drummond de Andrade).