DIA 07

Pela manhã, telefonema para Goiana, Pernambuco. Minha mãe havia pedido para eu ligar para Tia Salete. Algo a ver com o estado de saúde dela. Segui a recomendação de mamãe, mas sempre com um pequeno pedaço de papel preso à mão no qual estava anotado esta missão. A anotação era antiga; tinha mais de uma semana que estava para ligar para titia (no Nordeste eles pronunciam dessa forma). Ela atendeu o telefonem e fiquei na dúvida se eu pedia a bênção; noutros tempos, isso seria uma prática comum entre sobrinhos e tios de nossa família (a linha nordestina); os tempos são outros, e muita gente têm usado religião para justificar barbaridades. Não caio nessa. Tia Salete estava se recuperando. Quando começou a falar de suas enfermidades assumiu um pouco de minha mãe. Súbito pensei: como são parecidas e tão diferentes as irmãs. Depois da morte de Tio Lula, o último homem daquela geração, ficaram as duas. Seguido trocam telefonemas. Fico imaginando que quando conversam entre si uma deve chamar a outra pelo próprio nome, tal a semelhança de tom, a entonação de voz, a capacidade para expor os pequenos dramas, as saudades. Falamos muito de Tio Medeiros, seu esposo. Minha tia lembrou como ele se dirigia a ela (“Oh, Nega”), sempre a perguntar se faltava alguma coisa em casa. Conheci esse homem. Que pessoa linda, pura, sincera. Quando saíamos para rodar com ele pelas estradas de Pernambuco, a certa altura do trajeto, ele dizia: “Preciso colocar petróleo”. Era tão fofo e moderno meu tio. Saudades.

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